terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ninguém = Ninguém

Engenheiros do Hawaii
Composição: Humberto Gessinger

Há tantos quadros na parede
Há tantas formas de se ver o mesmo quadro
Há tanta gente pelas ruas
Há tantas ruas e nenhuma é igual a outra
Ninguém = ninguém

Me encanta que tanta gente sinta
(se é que sente) a mesma indiferença
Há tantos quadros na parede
Há tantas formas de se ver o mesmo quadro

Há palavras que nunca são ditas
Há muitas vozes repetindo a mesma frase:
Ninguém = ninguém
Me espanta que tanta gente minta
(descaradamente) a mesma mentira

São todos iguais
E tão desiguais
uns mais iguais que os outros

Há pouca água e muita sede
Uma represa, um apartheid
(a vida seca, os olhos úmidos)
Entre duas pessoas
Entre quatro paredes

Tudo fica claro
Ninguém fica indiferente
Ninguém = ninguém
Me assusta que justamente agora
Todo mundo (tanta gente) tenha ido embora

São todos iguais
E tão desiguais
uns mais iguais que os outros

O que me encanta é que tanta gente
Sinta (se é que sente) ou
Minta (desesperadamente)
Da mesma forma

São todos iguais
E tão desiguais
uns mais iguais que os outros
São todos iguais
E tão desiguais
uns mais iguais...
uns mais iguais...

Ai Quem Me Dera

Clara Nunes
Composição: Vinícius de Moraes

Ai quem me dera terminasse a espera
Retornasse o canto, simples e sem fim
E ouvindo o canto, se chorasse tanto
Que do mundo o pranto, se estancasse enfim

Ai quem me dera ver morrer a fera
Ver nascer o anjo, ver brotar a flor
Ai quem me dera uma manhã feliz
Ai quem me dera uma estação de amor...

Ahh se as pessoas se tornassem boas
E cantassem moas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem ser casais

Ai quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim

Ai quem me dera ouvir um nunca mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E ao fim da espera
Ouvir na primavera
Alguém chamar por mim

Ai quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim

Ai quem me dera ouvir um nunca mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E ao fim da espera
Ouvir na primavera
Alguém chamar por mim

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Gente

Raul Seixas
Composição: Raul Seixas e Claudio Roberto

Gente é tão louca
E no entanto tem sempre razão
Quando consegue um dedo
Já não serve mais, quer a mão
E o problema é tão fácil de perceber

É que gente
Gente nasceu pra querer
Gente tá sempre querendo
Chegar lá no alto
Pra no fim descobrir
Já cansado que tudo é tão chato
Mas o engano é bem fácil de se entender

É que gente
Gente nasceu pra querer
Em casa, na rua, na praia, na escola ou no bar... ah!
Gente fingindo, escondendo seu medo de amar...oh!
Gente é tão louca

E no entanto tem sempre razão
Quando consegue um dedo
Já não serve mais, quer a mão

E o problema é tão fácil de perceber
É que gente
Gente nasceu pra querer, ok, gente, gente
Em casa, na rua, na praia, na escola ou no bar... ah!
Gente fingindo, escondendo seu medo de amar...oh!
Gente é tão louca
E no entanto tem sempre razão
Quando consegue um dedo
Já não serve mais, quer a mão
E o problema é tão fácil de perceber
É que gente
Gente nasceu pra querer
É que gente
Gente nasceu pra querer...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Samba da Benção

Bebel Gilberto
Composição: Baden Powell / Vinicius de Moraes

É melhor ser alegre
Que ser triste
Alegria é a melhor
Coisa que existe
É assim como a luz
No coração...

Mas prá fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba
Não!...

Fazer samba não é
Contar piada
E quem faz samba assim
Não é de nada
O bom samba é uma forma
De oração...

Porque o samba é a tristeza
Que balança
E a tristeza tem sempre
Uma esperança
A tristeza tem sempre
Uma esperança
De um dia não ser mais triste
Não!...

Põe um pouco de amor
Numa cadência
E vai ver que ninguém
No mundo vence
A beleza que tem um samba
Não!...

Porque o samba nasceu
Lá na Bahia
E se hoje ele é branco
Na poesia
Se hoje ele é branco
Na poesia
Ele é negro demais
No coração...

É melhor ser alegre
Que ser triste
Alegria é a melhor
Coisa que existe
É assim como a luz
No coração...

Põe um pouco de amor
Numa cadência
E vai ver que ninguém
No mundo vence
A beleza que tem um samba
Não!...

Porque o samba nasceu
Lá na Bahia
E se hoje ele é branco
Na poesia
Se hoje ele é branco
Na poesia
Ele é negro demais
No coração...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Reinvenção

Cecília Meireles

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Meu Tempo

Vinicius de Moraes
Composição: Vinicius de Moraes / Marília Medalha

Minha sorte está lançada
Eu sou, eu sou estrada
Eu sou, eu sou levada
Eu sou, eu sou partida
Contra o grande nada - lá vou eu!
Ao romper da madrugada
O sol no pensamento
E o tempo contra o vento
E a minha voz alçada
Contra o grande nada - lá vou eu!
"Quem vem lá?" Pergunta a solidão
"Sou eu!"
Sou eu que vou porque o meu tempo nasceu

Entre os ecos do infinito
Eu grito, eu mato a solidão
Eu sou meu tempo, eu vou
A ferro e fogo, eu corro
Eu vou, eu canto e grito: amor!
Eu vou, eu vou, eu canto e grito: amor!